I
Há
uma coisa nesse mundo a qual não consigo resistir numa mulher: uma beleza elegante.
E
elegância nada tem a ver com essa macaqueação da era burguesa, essa
vulgarização do belo feito pela imitação barata das patricinhas ou das mulheres
chiques da alta sociedade.
Nossa
época é de um mau gosto estético sem precedentes. A maior prova disso é a
existência de hordas de mulheres e homens que acreditam que o belo é uma pose,
uma aparência forçada, uma artificialidade criada por maquiagens, produtos e
roupas chamativas, que ofendem o olhar de quem possui a percepção estética mais
apurada.

Uma
beleza elegante é fazer. Uma beleza que se perde é querer aparentar. Uma beleza
elegante é dona de si. Uma beleza que se perde é guiada pelos outros.
A
beleza se apresenta na banalidade do cotidiano, para dele nos tirar, e nos
trazer profundidade.
Uma
beleza elegante condensa vários elementos para fazer pulsar a personalidade
pelo corpo, pelos gestos.
Enquanto,
a elegância é altivez, constância, firmeza, estilo.Elegância
é a aura que cobre uma personalidade própria, e por isto, atraente, pois não é
trivial. Complexa e simples, ao mesmo tempo.
Elegância
é a perfeita harmonia entre traços de sua beleza, vestes para ela,
personalidade que se expressa pelo corpo.
Vejo
mais beleza e elegância numa linda morena de 1,75, cabelos curtos, vestindo uma
saia xadrez longa, com uma blusa básica, e uma sandália no pé, combinando com
sua personalidade e o conjunto em torno, do que aquele mau gosto asfixiante de
quem vive da pose, nos jantares da alta sociedade.
A
beleza elegante não é um molde, mas significa possuir o SEU estilo, dar-se
conta de sua beleza. Um indivíduo de verdade: carne, osso, e alma. Não um
indivíduo de faz-de-conta, com rebocos de maquiagem, e roupas forçadas e
chamativas.
Uma
beleza elegante deleita meu coração ao primeiro olhar. Há uma verdade ali para
me contar (e encantar), não uma mentira.
II
Se
existe uma coisa que tira toda elegância de uma bela mulher é a vulgaridade. O
vulgar é a simplificação e banalização da beleza. É a macaqueação do belo.
Existe
uma relação íntima entre a idolatria estética (sua vulgarização) e o moralismo.
O
moralismo é a vulgarização da percepção moral. O relativismo: o seu outro modo,
pelas vias negativas. Duas faces da mesma moeda sem substância real.
III
“As religiões – assim como as mulheres, os castelos e o pôr-do-sol – nunca atingem o seu
máximo de beleza enquanto não são tocadas pela decadência”. H.L. Mencken
Platão
era um sábio quando dizia que a beleza residia na forma, e não na matéria, no
eterno e não no que se degrada pelo tempo. Eis, o porquê de um dos nossos
maiores traumas contemporâneos: não saber envelhecer.
Por
colocarmos na matéria a condição de toda estética, e nos agarrarmos a ela,
ficamos atordoados com sua perecibilidade diante do tempo. Plásticas, mais
maquiagem, botox, cirurgias, e o resultado é este: só mais feiura. Envelhecer
belamente e com elegância é uma arte feita para indivíduos de verdade, e não
para gente feita de geleia, que nada aprendeu com o tempo a não ser o desejo de
nele voltar.
Apegada
a pura matéria, a afetação, e a vulgaridade, quer-se voltar aos tempos da
beleza juvenil. Mas a beleza do tempo é justamente a magia que liga a
decadência da matéria com a realização do espírito como consciência individual.
A beleza da velhice se apresenta na atração da personalidade plena
que se mostra.
IV
A
vulgarização imposta pela banalidade da vida burguesa chegou às partes sexuais.
Simplificamos o humano, em busca de prazeres quase mecânicos.
Nunca
se fez tanto sexo, nunca se fez tão mal.
Todo
bom amante na cama sabe que o mistério é o segredo, e que o prazer é um desejo
instigado, uma promessa, quase a se cumprir, sendo realizado calmamente na
incerteza do que virá. O ponto alto do prazer nunca está no desejo consumado,
mas na expectativa cada vez mais crescente de consumá-lo. A aurora é sempre
também a lembrança do fim. Não há sexo verdadeiramente humano sem sedução
anterior.
Sem
isto, o sexo deixa de ser entre humanos, e passa a ser sexo entre animais. Confunde-se
êxtase sensorial com troca, força com pegada.
Animais
transam apenas com seu sexo. Os homens transam com a verdade, com a língua, com
as mãos, com as palavras, mexe com a mente, e o corpo responde.
O
sexo vulgarizado é feito por indivíduos de mentira, que não possuem a si
próprio, não são donos de sua personalidade, e que precisam DESESPERADAMENTE de
alguma gota de prazer sensorial, algum alívio, algum depositório para seu vazio
interior.
Não
há mais refino, sedução, espera, expectativa, mas só a crueza mais selvagem e
desesperada. Ir e vir, esconder e revelar, pôr e retirar: movimento. Sem este
refino, com repetição mais crua, descortinaram-se os segredos, perderam-se as
emoções, transformaram o sexo em coisa banal.
A
idolatria do "sexo" aparece quando a beleza já se degradou, e a
percepção estética já se perdeu. Não há mais verdade.
V
Só
os bajuladores acreditam em poses.
Olhem
para aquele homem mal, que todos temem. Aparentando força, fazendo uma pose
digna de Roberto Justus.
Não
tema! Besteira, quem precisa fazer pose quer transparecer o que não é. Por
dentro, é apenas mais um menino vaidoso e assustado, fazendo “buuu!” para as
crianças.
Sim,
só bajuladores acreditam em poses, só eles se assustam com essas coisas.
VI
Sinceridade:
o sujeito ser autor dos seus atos, reconhecer que é autor, e assumir as
consequências. Ser sincero é ser responsável por si: um indivíduo de verdade,
não de mentira, que sofre, chora, erra, acerta, mas bate no peito, e não se
vitimiza.

A
nossa época vive uma intensa crise de personalidade, porque faltam indivíduos
de verdade, e sobram vaidosos ocos, querendo emular fortaleza. A vaidade virou
uma obsessão: todos querem a admiração alheia. Deixar de ser para aparentar
ser. Perder o controle da sua vida, e ser controlado por outro: uma massa
amorfa opinante.
Geralmente,
pessoas muito vaidosas possuem problemas de autoestima, não pela falta de
atenção, mas pela personalidade frágil: basta alguém não comprar sua aparência
de vencedor, para entrar em parafuso.
Na
época em que todos são donos do seu tempo, viramos frágeis como um cristal.
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