"Like Burke, therefore,
I made the passage from aesthetics to conservative politics with no sense of
intellectual incongruity, believing that, in each case, I was in search of a
lost experience of home. And I suppose that, underlying that sense of loss is the
permanent belief that what has been lost can also be recaptured — not
necessarily as it was when it first slipped from our grasp, but as it will be
when consciously regained and remodelled, to reward us for all the toil of
separation through which we are condemned by our original transgression. That
belief is the romantic core of conservatism, as you find it — very differently
expressed — in Burke and Hegel, in Coleridge, Ruskin, Dostoevsky and T.S.
Eliot."
Roger Scruton
Roger Scruton
Conta-nos uma antiga
tradição que um jovem herói ateniense, Teseu, sabendo que sua cidade deveria
pagar a Creta um tributo anual para alimentar o temido Minotauro, solicitou ser
incluído, com o objetivo de derrota-lo.
Meio homem, meio animal, o
Minotauro simboliza os instintos animais interiores ao homem. Uma figura que
condensa, através da violência e da dor, todas as ambiguidades da experiência
humana, entre a ordem e a transgressão, entre a razão e o instinto. Uma
promessa e uma ameaça. Um símbolo que prefigura dois elementos paradoxais do
mundo material: a) uma lembrança de dor – a do parto (ou queda) –, sendo esse
sofrimento o mesmo que nos faz lembrar o “caminho de volta para casa”, do sentimento
originário; b) a violência de estar-aí, da indefinição da vida corporal.
Para pôr fim aos seus
anseios, Teseu resolveu consultar o Oráculo de Delfos sobre a possibilidade de
seu triunfo. Um dever descobriu: deveria ser guiado pelo amor dado para
vencê-lo. Amor que guia o conhecimento. Com efeito, a linda Ariadne, filha do
poderoso Minos, tinha se apaixonado por Teseu e combinou com o jovem um meio de
fazê-lo encontrar a saída do terrível labirinto: um novelo de lã.
Sábios são os oráculos.
E mais sábio de todos os sábios era o de Delfos. Aconselhara Minos a prender o
fruto da sua honra traída por Pasífae num imenso e inexpugnável labirinto. E para
Teseu triunfar sobre o Minotauro, aconselhou-o a receber o amor de Ariadne,
meia-irmã da ambiguidade, como dádiva.
Teseu entra no
labirinto e derrota o Minotauro, segurando numa das mãos uma das pontas do
novelo de lã, enquanto Ariadne segura à outra ponta na entrada do labirinto. Teseu
se salva graças ao fio de Ariadne. O homem forte por excelência, Teseu, usando
o amor como dádiva, enfrentou o seu próprio instinto, o seu eu animal,
dominou-o. A sabedoria dos mitos, a sabedoria dos antigos.
A parte indomável da
natureza, que o homem possui dificuldade de controlar, foi derrotada, mas na
sua lembrança deixa uma promessa: não findará. O homem produz cultura, controla
os seus instintos, mas eles voltam sob outra forma. Impasses que nos fundam. Enquanto
isto, na vida moderna, colocamos tantas camadas culturais sobre nossos instintos,
que sequer enxergamos mais uma essência. Viramos náufragos da existência. Estamos
perdidos na vertigem caótica dos signos desordenados. Não reconhecemos nossos
limites.
A história que contei
leva-nos a algumas reflexões. O homem é um ser incompleto que aspira ser algo.
Nessa busca, ele percebe a circularidade do tempo, os símbolos que condensam
toda ambiguidade da existência. E, acima de tudo, percebe nessa busca uma intuição
de que algo foi perdido. Em busca dessa experiência perdida, entre o ser e o
não-ser, o homem faz sua travessia. Essa intuição também nos arrasta para a
tentativa de recapturar o que foi perdido, não mais como foi – pois isto seria
impossível –, mas como
uma centelha, uma
experiência remodelada que nos aproxima – e nos recompensa da
labuta – do que antes era e nos condenou a essa separação.
Porém, não estamos sós. Fazemos cultura, vivemos em
sociedade. No labirinto da cultura, na busca pela
verdade, damos de frente com as possibilidades e com nossos limites. A
multiplicidade só pode ser por que participa de algum modo da unidade. Como
identificar o variável sem aludir ao seu ser? Aludindo aos vários tipos de
mulheres, a mulher loira, a morena, a ruiva, a baixa, a alta, seja lá como for,
já falamos de um ser, o da mulher. E é só por que existe esta unidade que
podemos nos comunicar.
Aqui há vários fios que
estão unidos por uma substância. Fios por que o labirinto da cultura é composto
de vários outros, de modo que, quando se sai de um, noutro já se está entrando.
Labirintos, é claro, não possuem saídas, a menos que encontremos o seu segredo,
reconheçamos as suas encruzilhadas e tenhamos o fio que nos conduza por seus
trajetos.
Penso que a principal
característica da vida intelectual autêntica é a honestidade. Quanto mais simples e óbvia aparenta ser esta
sentença, menos compreendida parece se tornar. Quem, em estado de inquietude,
se propõe a pensar realidade, guiado pelo esforço inicial de tentar dar
respostas (mesmo em forma de novas questões) a perguntas formuladas, está se
inserindo numa tradição. Instintivamente, a primeira coisa a se fazer é
procurar autores que tenham pensado sobre essas questões. Isto pressupõe que
todo fazer intelectual depende da apreensão do status quaestionis (estado da questão), e do diálogo com
uma tradição.
Este blogueiro não foge
da divergência como o diabo foge da cruz. Entrega-se ao mundo na esperança de
recolher alguns de seus cacos. Aqui o amor é pela busca da verdade, não amor
pela medalha, pelos títulos, pelo grupo, pela sociabilidade provinda do
grupelho ideológico.
Assim, por mais, pretendo: um blog incaricaturável.